quarta-feira, 25 de maio de 2016

O dia da África

Veja matéria do portalangop, direto de Luanda

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Hoje é dia do Continente Africano

Luanda - O "continente negro" celebra hoje, 25 de Maio, 53 anos desde a criação, em Addis Abeba (Etiópia), da então Organização de Unidade Africana (OUA), em carta assinada por 32 estados africanos já independentes na altura.


Matéria completa no link abaixo 

quinta-feira, 12 de maio de 2016

CONVERSANDO COM A SUA HISTÓRIA: MAHFOUZ AG ADNANE

A Fundação Pedro Calmon, Secretaria de Cultura da Bahia,  promoveu mais uma edição do projeto Conversando com sua História  desta vez dentro da programação especial dedicada ao mês da África. 
Na programação  está a exposição Viagem a Timbuktu,  com fotos de  Edmond Fortier,  exibição  comentada de filmes  e o programa Conversando com sua História que trouxe na primeira sessão o historiador baiano Paulo Moraes Farias.

A segunda sessão, realizada no dia 11 de maio, foi com o historiador Mahfouz Ag Adnane que atualmente faz doutorado em História aqui no Brasil,  na PUC-SP. Mahfouz  é  um Kel Tamacheque, africano de uma região pouco conhecida,  e pouco falada aqui no Brasil,  onde  acabamos concentrando todas as nossas atenções nas regiões de origem mais  direta  dos nossos antepassados.

Em sua conferência, Mahfouz  tratou dos "festivais e encontros intercomunitários no Saara" que é  o  seu  tema  de estudo doutoral. Começou explicando  a origem colonial  do nome "Tuaregue",  afirmando que o povo em questão se denomina Kel Tamacheque. Seguiu apresentando mapas para situar  a platéia sobre a localização desse povo. 

Explorou a questão da  diversidade cultural dos habitantes da cidade de Timbuktu,  grande centro de conhecimento em todas as áreas até a  invasão Marroquina em 1591. Tratou também da presença islâmica e do  apogeu da cidade para o que o  comércio de sal e do ouro tiveram papel decisivo. 
Dedicou especial atenção à resistência dos  habitantes de Timbuktu, como os Kel Tamacheque e os Songhai, contra a  invasão marroquina e a opressão que se abateu sobre os sábios da cidade. Mahfouz discutiu as diferenças entre  grupos,  confrarias islâmicas  e criticou a visão monolítica dos que se consideram único porta voz  do Islão. 

A riqueza de  Timbuktu despertou a cobiça europeia e várias  expedições foram enviadas para tentar chegar a cidade. Daí  Mahfouz discutiu  as iniciativas de invasão colonial já no século XIX e XX e toda resistência contra tais ações.  
É  nesse contexto de resistência que Mahfouz  aborda as revoltas  Kel Tamacheque  na segunda metade do seculo XX até os dias atuais e , particularmente,  o papel dos artistas e dos festivais intercomunitários nesta luta política e cultural contra a  colonização e a sua herança nos Estados independentes que conservam, entre outras coisas, as fronteiras coloniais. As práticas  culturais Kel Tamacheque questionam essas  limitações  e reafirmam a sua identidade e sua ancestralidade. 

A conferência de Mahfouz foi um momento muito especial.  Foi uma aula sobre uma região e um povo que não é estudado por aqui.  Assim ajuda a romper com a visão de pensar a África restrita às regiões onde pessoas foram sequestradas  e enviadas para serem escravizadas no Brasil. 


CONVERSANDO COM A SUA HISTÓRIA: PAULO MORAES FARIAS

O mês da África promovido pela Fundação Pedro Calmon, da Secretaria de Cultura do Estado da  Bahia, fez, no dia 09 de maio, uma sessão do Conversando com sua História  com  o  Historiador Paulo Fernando Moraes Farias. O professor Paulo é baiano.  Saiu  daqui em 1964. Trabalhou na África Ocidental. Depois  foi  para a Inglaterra onde  hoje  integra o  departamento de estudos africanos  da Universidade de Birmingham.

Conectividades entre as  Histórias regionais da África Ocidental foi  o tema da conferência que começou explicando como ele desenvolveu o interesse pela História da África. Sua origem  de esquerda fez questionar o papel atribuído aos africanos na formação do Brasil. 

Em 1964 já  tinha acertado  ida para Gana como parte  do convênio entre o Centro de Estudos Afro Orientais (CEAO) e várias universidades africanas. O Golpe o fez sair  preocupado com a própria segurança.  O convite da  universidade de Gana era uma  carta na manga.

O professor Paulo descreveu o Instituto de estudos Africanos da universidade de Gana como um  centro de estudos estimulante,  universalista,  pluralista e desafiador, integrando professores de todos os cantos do mundo. Foi para lá como estudante de pós graduação.  Como professor foi  atuar depois na Universidade de Dakar.

A experiência em Gana  ajudou a definir o que queria fazer em termos de História da África.  Afirma que: "A tendência natural de um brasileiro era querer estudar aquelas partes do continente que tem relação direta com o Brasil".  Começou a pensar em trabalhar com um tema fora desta linha mas que merece ser estudado, porque a África deve ser estudada como um todo. Foi assim que chegou ao Movimento Almorávida,  grande  império que durou quase um século.  Iniciado na África ocidental,  se expandiu  até  a Espanha e  Portugal.  Destaca isso para chamar atenção de que era um movimento africano interferindo na história europeia e na vida do Oriente médio. Um sentido oposto ao que estamos habituados a pensar. O processo de inserção da África não pode ser visto apenas como  penetração.  Os africanos estavam num  papel  ativo.  Exemplo disso foi  o  movimento Almorávida.
  
Na África há uma tradição das pessoas se deslocarem,  existe muito contato entre os povos. Daí a reflexão sobre as experiência de contatos, as "conectividades" conforme as suas palavras. Focalizou a região do Vale do Níger que é um grande canal de comunicação, importante rota de comércio e de ligação entre diferentes povos. O professor Paulo lembra que Diásporas  comerciais  são temas de  pesquisa bem estabelecimento mas que a tendência de estudar casos particulares mascara o panorama maior dos contatos e conexões.

Toda a conferência, magistral diga-se de passagem, foi regada por uma farta demonstração das possibilidades temáticas e da diversidades de fontes  para o estudo da História da África Ocidental. O desafio está lançado.