A Fundação Pedro Calmon, Secretaria de Cultura da Bahia, promoveu mais uma edição do projeto Conversando com sua História desta vez dentro da programação especial dedicada ao mês da África.
Na programação está a exposição Viagem a Timbuktu, com fotos de Edmond Fortier, exibição comentada de filmes e o programa Conversando com sua História que trouxe na primeira sessão o historiador baiano Paulo Moraes Farias.
A segunda sessão, realizada no dia 11 de maio, foi com o historiador Mahfouz Ag Adnane que atualmente faz doutorado em História aqui no Brasil, na PUC-SP. Mahfouz é um Kel Tamacheque, africano de uma região pouco conhecida, e pouco falada aqui no Brasil, onde acabamos concentrando todas as nossas atenções nas regiões de origem mais direta dos nossos antepassados.
Em sua conferência, Mahfouz tratou dos "festivais e encontros intercomunitários no Saara" que é o seu tema de estudo doutoral. Começou explicando a origem colonial do nome "Tuaregue", afirmando que o povo em questão se denomina Kel Tamacheque. Seguiu apresentando mapas para situar a platéia sobre a localização desse povo.
Explorou a questão da diversidade cultural dos habitantes da cidade de Timbuktu, grande centro de conhecimento em todas as áreas até a invasão Marroquina em 1591. Tratou também da presença islâmica e do apogeu da cidade para o que o comércio de sal e do ouro tiveram papel decisivo.
Dedicou especial atenção à resistência dos habitantes de Timbuktu, como os Kel Tamacheque e os Songhai, contra a invasão marroquina e a opressão que se abateu sobre os sábios da cidade. Mahfouz discutiu as diferenças entre grupos, confrarias islâmicas e criticou a visão monolítica dos que se consideram único porta voz do Islão.
A riqueza de Timbuktu despertou a cobiça europeia e várias expedições foram enviadas para tentar chegar a cidade. Daí Mahfouz discutiu as iniciativas de invasão colonial já no século XIX e XX e toda resistência contra tais ações.
É nesse contexto de resistência que Mahfouz aborda as revoltas Kel Tamacheque na segunda metade do seculo XX até os dias atuais e , particularmente, o papel dos artistas e dos festivais intercomunitários nesta luta política e cultural contra a colonização e a sua herança nos Estados independentes que conservam, entre outras coisas, as fronteiras coloniais. As práticas culturais Kel Tamacheque questionam essas limitações e reafirmam a sua identidade e sua ancestralidade.
A conferência de Mahfouz foi um momento muito especial. Foi uma aula sobre uma região e um povo que não é estudado por aqui. Assim ajuda a romper com a visão de pensar a África restrita às regiões onde pessoas foram sequestradas e enviadas para serem escravizadas no Brasil.